Caer Ibormeith

Em mim ressoa o mundo

Sonhos, música e magia

Amor

Tudo é essência

É puro

É poesia

Salve Caer Ibormeith

Que me fez transcender

Entre sonhos e lucidez

Em mim outra vez

Alyne Castro

Meus sonhos constantes, lúcidos e enigmáticos, me levaram a encontrar Caer nos sonhos de Oengus. Seu nome ressoou tão forte em mim, que buscar mais sobre sua história foi natural. Orgânico. E como sonhos, Caer é uma experiência a ser vivenciada.

Caer Ibormeith

Seu nome é Caer Ibormeith, e ela claramente não é uma mulher comum.

Caer (pronuncia-se Keer) é uma metamorfa, passa um ano como uma linda mulher e no ano seguinte como um cisne. Era acompanhada por 150 donzelas- cisne, que passam por essa transformação todos os anos no Samhain, uma época liminar em que o véu entre o mundo visível e o invisível é mais tênue.

As Donzelas-Cisne são criaturas encantadas encontradas no folclore e mitos de grande parte da Europa. Na Irlanda e na Escócia, elas são conhecidas como donzelas que foram condenadas a viverem no corpo de um cisne até o final de suas vidas, e em algumas partes da Irlanda, os cisnes são criaturas habitadas pelo espírito de donzelas virgens. Apesar do encantamento, no entanto, algumas histórias mostram que as criaturas poderiam reassumir a sua forma humana tirando a sua cobertura de penas para então se tornarem donzelas de uma beleza rara.

Caer Ibormeith era filha de um dos Tuatha de Danann, Ethal Anbuail. Caer e seu pai moravam em Sidhe Uamuin em Connacht. Caer Ibormeith é uma entidade primordial, féerica (do povo dos Sidhe) e poderosa, que abriu seu próprio caminho no mundo. Quando Oengus descreve seus sonhos para as outras divindades, elas não a reconhecem. Embora nos livros de mitologia modernos, Caer seja uma nota de rodapé, mencionada apenas como consorte de Oengus; é Caer quem se aproxima de Oengus em seus sonhos; Caer, que define os termos do casamento; e Caer, que transforma Oengus em um cisne.

Os cisnes aparecem com frequência na mitologia celta, muitas vezes ligados a uma deusa. Eles estão associados ao amor, pureza, alma e música. Os cisnes, associados ao Festival de Samhain, atuam como guias para o Outro mundo.

Caer Ibormeith and Oengus

A história de amor de Oengus e Caer foi escrita no século VIII (O sonho de Oengus- Aislinge Oengusso) após a conversão da Irlanda ao Cristianismo. Antigos mitos eram amados e registrados para não serem esquecidos, mas os aspectos divinos dos personagens eram minimizados. Caer é uma antiga deusa cisne, uma companheira adequada para o Senhor do Amor. (Diz a lenda que os cisnes se acasalam para o resto da vida, e assim sua união é um exemplo para todos.)

O texto mito “O sonho de Oengus” foi retirado na íntegra do site Politeísmo Gaélico e traduzido por Leonni Moura. E pode ser acessado em: O sonho de Oengus

O sonho de Oengus

Aislinge Oengusso

Oengus estava dormindo uma noite até que viu algo como uma jovem garota vindo em direção à cabeceira de sua cama e ela era a mulher mais linda em Eriu. Ele foi pegar sua mão para puxá-la para sua cama, mas quando foi recebê-la, ela desapareceu subitamente e ele não sabia quem a tinha levado. Ele ficou na cama até a manhã seguinte e ficou com a mente perturbada: a forma como ele tinha a visto, mas não pôde falar com ela o deixou doente. Nenhuma comida entrou em sua boca naquele dia. Ele esperou até anoitecer, e então viu o mais doce timpán¹ na mão dela, e ela tocou para ele até ele adormecer. Ele ficou assim durante todas as noites, e na manhã seguinte, ele não comeu nada.

Um ano inteiro se passou e a garota continuava visitando Oengus até ele se apaixonar por ela, mas ele não contou a ninguém. Ele ficou doente e ninguém sabia o que tinha o infligido. Os médicos de Eriu se reuniram, mas não podiam descobrir o que havia de errado. Eles então chamaram Fergne, o médico de Cond, e ele veio. Ele podia ver qual doença o homem estava apenas olhando para sua face, assim como podia dizer a partir da fumaça que saia de uma casa quantos doentes estavam dentro dela. Fergne levou Oengus para um canto e lhe disse, “Isso não é um encontro, e sim amor em falta.” “Você adivinhou minha doença,” disse Oengus. “Você ficou com o coração doente,” disse Fergne, “e não ousou contar a ninguém.” “É verdade,” disse Oengus. “Uma jovem menina veio até mim; sua forma era a mais bonita que já vi e sua aparência era excelente. Um timpán estava em sua mão e ela tocava para mim todas as noites.” “Não importa,” disse Fergne, “o amor por ela te prendeu. Nós chamaremos Bóand, sua mãe, para que ela venha e fale com você.”

 Eles chamaram Bóand e ela veio. “Eu fui chamado para ver esse homem, pois uma misteriosa doença se apoderou dele,” disse Fergne, que contou para Bóand o que tinha acontecido. “Deixe sua mãe cuidar dele,” disse Fergne, “e que ela procure por Eriu até ela achar a figura que seu filho viu.” A procura durou um ano, mas a garota não foi encontrada. Fergne então foi chamado novamente. “Nenhuma ajuda foi encontrada para ele,” disse Bóand. “Então chamem o Dagda e deixe-o vim falar com seu filho,” disse Fergne. O Dagda foi chamado e veio perguntando, “Por que eu fui chamado?” “Para aconselhar seu filho,” disse Bóand. “É certo que você o ajude, pois sua morte seria uma pena. Um amor ausente se apoderou dele e nenhuma ajuda para isso foi encontrada.” “Por que me diz isso?” perguntou o Dagda, “meu conhecimento não é maior que o seu.” “De fato, é,” disse Fergne, “pois tu és o rei do Síde de Eriu. Mande mensageiros para Bodb, pois ele é o rei do Síde de Mumu, e seu conhecimento se espalha por toda Eriu.”

 Mensageiros então foram enviados para Bodb e eles foram recebidos. Bodb disse, “Bem-vindos, povo do Dagda.” “É por isso que viemos,” eles responderam. “Quais são suas notícias?” Bodb perguntou. “Nós temos: Oengus, o filho do Dagda, está apaixonado por dois anos,” eles responderam. “Como foi isso?” Bodb perguntou. “Ele viu uma jovem garota quando estava dormindo,” eles disseram, “mas não sabemos onde ela pode ser encontrada em Eriu. O Dagda pediu para você procurar por toda Eriu por uma garota com a sua forma e aparência.” “Essa busca será feita,” disse Bodb, “e durará um ano, para que eu possa ter certeza em encontrá-la.” No fim do ano, o povo de Bodb foi até ele em sua casa em Síd ar Femuin e disseram, “Fizemos um circuito por Eriu, e encontramos a garota em Loch Bél Dracon em Cruitt Cliach.” Mensageiros então foram enviados ao Dagda, que os recebeu e disse, “Vocês têm novidades?” “Boas notícias: a menina com a aparência que você descreveu foi encontrada,” eles disseram. “Bodb pediu para que Oengus viesse conosco para ver se ele reconhece a garota que viu.”

Oengus então foi levado em uma biga para Síd ar Femuin, e foi recebido lá com uma grande festa preparada para ele que durou três dias e três noites. Depois disso, Bodb disse para Oengus, “Vamos agora, para ver se você reconhece a garota. Você poderá vê-la, mas não está em meu poder dá-la para ti.” Eles foram até chegar a um lago, e lá, viram três vezes cinquenta jovens meninas, e a menina de Oengus estava entre elas. As outras garotas não eram mais altas que o ombro dela; cada par delas estava acorrentada por uma corrente de prata, mas a menina de Oengus usava um colar de prata e sua corrente era de ouro polido. “Você reconhece essa menina?” perguntou Bodb. “De fato, conheço,” Oengus respondeu. “Não posso fazer mais nada por você, então,” disse Bodb. “Não importa, pois ela é a garota que vi. Eu não posso pegá-la agora. Quem é ela?” Oengus disse. “Eu a conheço, é claro: Caer Ibormeith, a filha de Ethal Anbúail de Síd Uamuin, na província de Connacht.”

Após isso, Oengus e seu povo voltaram para seu lar, e Bodb foi com eles para visitar o Dagda e Bóand no Bruig ind Maicc Oic (Brúg na Boine). Eles contaram suas notícias: como era a forma e a aparência da garota conforme Oengus tinha a visto, eles contaram o nome dela, do pai dela e de seu avô. “Uma pena que não conseguimos tê-la,” disse o Dagda. “O que você deve fazer é ir até Ailill e Medb, pois a menina está em seu território,” disse Bodb.

O Dagda então foi para Connacht com três vintenas de bigas com ele, e lá, eles foram bem recebidos pelo rei e pela rainha e passaram uma semana festejando e bebendo. “O porquê da jornada?” perguntou o rei. “Há uma menina em seu território,” disse o Dagda, “que pela qual o meu filho se apaixonou e lhe deixou doente. Eu vi para ver se você pode me dá-la.” “Quem é ela?” Ailill perguntou. “A filha de Ethal Anbúail,” o Dagda respondeu. “Não temos o poder para dá-la a você,” disseram Ailill e Medb. “Então a melhor coisa a se fazer é chamar o rei do síd aqui,” disse o Dagda. O mordomo de Ailill foi até Ethal Anbúail e disse, “Ailill e Medb pediu para você ir até eles falar com eles.” “Eu não irei,” Ethal disse, “e não darei minha filha para o filho do Dagdae.” O mordomo repetiu isso para Ailill, dizendo, “Ele sabe o porquê de ter sido chamado e não virá.” “Não importa,” disse Ailill, “pois ele virá, e a cabeça de seus guerreiros com ele.”

 Após isso, a criadagem de Ailill e o povo do Dagda se levantaram contra o sid e o destruiu; eles trouxeram três vintenas de cabeças e confinou o rei a Crúachu. Ailill disse a Ethal Anbúail, “Dê sua filha para o filho do Dagda.” “Eu não posso,” disse ele, “pois o poder dela é maior que o meu.” “Que grande poder ela tem?” Ailill perguntou. “Ela fica na forma de um pássaro todos os dias durante um ano e na forma humana todos os dias do ano seguinte,” Ethal disse. “Qual ano ela estará na forma de um pássaro?” Ailill respondeu. “Não é para eu revelar isso,” Ethail respondeu. “Sua cabeça será cortada,” disse Ailill, “a menos que você nos diga.” “Não vou mais esconder isso então, e sim irei lhe contar, já que você é tão obstinado,” disse Ethal. “No próximo Samhain, ela estará na forma de um pássaro; ela estará em Loch Bél Dracon, e belos pássaros serão vistos com ela, três vezes cinquenta dos cisnes ao seu lado, e eu as prepararei.” “Isso não importa,” disse o Dagda, “uma vez que eu já saiba a natureza que você colocou sobre ela.”

Então foi feito a paz e amizade entre Ailill, Ethal e o Dagda, e este último se despediu deles e foi para casa contar as notícias para seu filho. “No próximo Samhain, vá até o Loch Bél Dracon,” ele disse, “e chame-a até você.” O Macc Oc (Mac Óg) foi até Loch Bél Dracon e lá ele viu três vezes cinquenta pássaros brancos, em correntes de prata, e cabelo dourado sobre suas cabeças. Oengus estava na forma humana na beira do lago e chamou a menina, dizendo, “Venha falar comigo, Caer!” “Quem está me chamando?” perguntou Caer. “Oengus está chamando,” ele respondeu. “Eu irei,” ela disse, “se você me prometer que eu possa voltar para a água.” “Eu prometo,” ele disse. Ela então foi até ele, que colocou seus braços em volta dela e dormiram na forma de dois cisnes até darem três voltas no lago. Assim, ele manteve sua promessa. Eles deixaram o lugar na forma de dois cisnes brancos e voaram para o Bruig ind Maicc Oic (Brúg na Boine), e lá eles cantaram até as pessoas adormecerem por três dias e três noites. Caer permaneceu com Oengus após isso. Foi assim que surgiu a amizade entre Ailill e Medb e o Mac Oc (Mac Óg), e é por isso que Oengus levou trezentos para o roubo do gado de Cúailnge.

Notas de tradução 1. Timpán. De acordo com o site “Oxford Index”, o timpán é uma palavra em irlandês médio usada para descrever um instrumento musical que é uma espécie de lira, embora escritores medievais do Continente usassem a palavra tympanun para denotar uma espécie de tambor.

“Na tradição irlandesa e celta, Caer optou por se comunicar com as pessoas em sonhos e dizia-se que guiava os inquietos para o sono, mas também atormentava seus sonhos quando a viam. Caer se deleitou com as travessuras, e tanto ajudou quanto assombrou”

(Van Winkle).

Para mim, Caer Ibormeith é a Deusa dos Sonhos e da Profecia. Uma entidade primordial que criou o mundo dos sonhos como um dos meios de se comunicar e aprender com o Outro Mundo. Na mitologia irlandesa, os sonhos costumavam ser usados como meio de busca de conhecimento.

Imbas Forosnai é um antigo ritual irlandês para olhar para o futuro e buscar informações através dos sonhos. Imbas significa “inspiração”, e forosnai significa “iluminar” ou “aquilo que ilumina”. De acordo com um texto denominado Glossário de Cormac, envolvia o uso de privação sensorial e o consumo de substâncias específicas para entrar em transe ou estado de sonho.

Caer Ibormeith tem associações poderosas com a morte:

• É também chamada de Yew Berry e associada a árvore teixo. As bagas de teixo são altamente venenosas e são as armas favoritas nos antigos mistérios de assassinatos britânicos. Quando ela é chamada de Yew Berry, é a tradução inglesa de Caer (baga, fruto) Ibormeith (do teixo). Esse é o seu nome, “Fruto do Teixo”.

• Os cisnes estão entre as criaturas que servem como psicopompos: espíritos que guiam as almas mortas para seu próximo destino e para o Outro Mundo. A dupla identidade de Caer indica seu poder sobre a vida e a morte. Ela é uma entidade que guarda os portais de conexão ao Outro Mundo.

Regra de Caer: Sonhos, sonhos proféticos, adormecer, música e magia.

Chame Caer quando precisar de orientação do mundo dos sonhos. Com a ajuda dela, esteja aberto para receber sonhos proféticos. Deixe a música sobrenatural de Caer fazer sua mágica.

Salve Caer Ibormeith
Senhora dos Sonhos
Permita sua música me contagiar
e para os sonhos proféticos me levar


Salve Caer Ibormeith
Guie-me pelos prados da vida
Na jornada do Amor

Eu te honro e peço suas bênçãos hoje!

Salve Caer Ibormeith,
Donzela-cisne, Senhora dos Sonhos, Protetora do Puro Amor!
Envolva-me em suas asas brancas macias enquanto eu caminho pela vida,
Proteja-me daqueles que me fariam mal
Senhora Brilhante, Soberana dos Sonhos,

Eu te honro e peço suas bênçãos hoje!

Pintura Judith Shaw

Fontes:

Donzela-cisne no Politeísmo Gaélico https://www.facebook.com/politeismogaelico/posts/316228055707439/

O sonho de Oengus (Aislinge Oengusso) traduzido por Leoni Moura – http://tirtairnge.blogspot.com/2015/08/o-sonho-de-oengus.html

http://meadowsweet-myrrh.blogspot.com/2007/07/swan-maidens-story.htmlhttp://amayodruid.blogspot.com/2010/09/caer-swan-maiden-of-Oengus.html

Encyclopedia of Spirits: The Ultimate Guide to the Magic of Saints, Angels, Fairies, Demons, and Ghosts por Judika Illes  

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